Etapa 3 – Relatório 3


23.ABR.2003

Namastê, Seguimos no Nepal, um país que a cada dia surpreende mais com a beleza do Himalaia. De Katmandu resolvemos fazer algumas trilhas pelas motanhas. Pedalamos um trecho da estrada Lhasa-Katmandu que liga Nepal ao Tibet/China, subimos para o Vale de Langtang para fazermos caminhadas a mais de 3000 m.a.n.m. e depois seguimos oeste para Pokhara.

Os dias em Katmandu foram usados também para arrumar bicicletas e o notebook. A capital possui 500 mil habitantes e fica a 1300 m.a.n.m. (metros acima do nível do mar), no seu centro antigo estão concentrados templos, praças, palácios, mercados, restaurantes, hotéis, lojas de chá, tecidos, etc. Visitamos também Patan e Bhaktapur, cidades do aglomerado urbano do vale de Katmandu que foram construídas com as portas e janelas minuciosamente esculpidas durante a dinastia Malla do Séc. XVII.

Bhaktapur

Por coincidência estamos passando no Himalaia durante as comemorações de 50 anos da primeira escalada ao topo do monte Everest pelo neozelandês Edmund Hillary em 1953.

Estátua sagrada em Bhaktapur

Katmandu, assim como Goa na India e Bali na Indonésia, foram as cidades onde a “geração woodstock” se encontrava nos anos 60 e 70 em busca de boa energia e paz. Muitos artistas frequentavam a “freak street”, uma rua no centro que ficou famosa pelo ambiente de bares e restaurantes bons e baratos.

Panorâmica de Katmandu

Fomos na fronteira com o Tibet para pedalarmos um pouco na famosa estrada Lhasa-Katmandu. Com a invasão da China no Tibet as taxas e exigências (carros acompanhando e guias) para pedalar no lado tibetano estão custando 700 dólares por pessoa. Preferimos então pedalar somente no lado nepalês e curtir a descida do rio Bhote Koshi com montanhas de neve e incríveis paisagens ao redor da estrada, sempre rodeados de faces nepalesas misturadas com os imigrantes tibetanos.

Passamos em Nagarkot, um topo de morro cheio de hotéis, de onde foi possível ver a cadeia de montanhas nevadas do Himalaia e o topo do Everest. O Himalaia possui dez cumes com mais de 8000 m.a.n.m. e mais de duzentos com mais de 7000 m.a.n.m. De Nagarkot voltamos para Katmandu e nos encontramos com o amigo brasileiro Gustavo que viajou conosco de bicicleta no trecho entre Katmandu e Pokhara.

Montanhas em Nagarkot

Apesar da paz que reina no Nepal turístico, o país passa por um momento de instabilidade política por causa dos maoístas (Integrantes do Partido Comunista seguidores do Mao Tsé-tung). Todos os pontos estratégicos (casas do governo, telecomunicação, hidroelétricas, etc.) estão ostensivamente vigiados pelo exército com barricadas e armas já preparadas para qualquer ataque. Vimos casas de governo explodidas por bombas, passeatas de caminhões com as bandeiras vermelhas e reportagens ameaçando o governo através dos principais jornais do país. Vários locais que paramos estão em estado de alerta, o comércio fecha às 20:00 e ninguém mais sai de casa.

A situação política do país reflete a pobreza da população rural das montanhas e a posição geo-estratégica entre as duas grandes potências China e Índia que acirra o conflito entre o socialismo e capitalismo.

Passeata maoísta

Seguimos em três, Gustavo, Alexandra e eu, pelo montanhoso caminho para o vale de Langtang. A subida foi difícil e durou dois dias. Pegamos estradas de terra muito inclinadas e tivemos de puxar as bicicletas. A baixa velocidade fez com que a criançada pudesse nos acompanhar por vários quilômetros. Às vezes aparecia uma molecada danada e tínhamos de ficar espertos pois tentavam pegar coisas da bicicleta e correr. Tivemos de resgatar uma bandeira e uma bomba de ar. Quase toda criançada sabe inglês e usam freneticamente a palavra give – Give chocolate, give sweet, give money, give pencil, give your bicycle, give your ball, etc. Mas na verdade eles não querem nada disso, querem apenas alguma atenção. Uma boa estratégia foi cantar caminhando. Todos nos acompanhavam na canção e esqueciam de ficar pedindo ou tentando pegar nossas coisas.
Teste de resistência da bicicleta
Em uma das vilas, Kalikasthan, enchemos a bola de futebol do Gustavo e fizemos uma festa na beira da estrada. Em pouco tempo já tínhamos conhecido quase metada da cidade. Apesar das férias escolares conseguimos juntar uma boa turma de estudantes e no final fizemos uma aula alternativa misturando bicicleta, bola, mapas, fotos, etc.

Mãe e filha no Himalaia

Chegamos em Dunche (2040 m.a.n.m.), deixamos as bicicletas e seguimos caminhando por mais dois dias até os 3350 m.a.n.m. dentro do Parque Nacional de Langtang. Embora seja um parque oficial a região segue com problemas de desmatamento. As casas da região quase não possuem fogão a gás e fazem desmatamento para cozinhar, aquecer as casas, abrir área para plantio, etc. – e ninguém faz reflorestamento. A caminhada vale a pena pela vista das impressionantes montanhas (Langtang – 7246 m.a.n.m.) e as vilas Tibetanas e Tamang do percurso.
Morros de neve em Langtang
No caminho para Pokhara seguimos vendo uma vida rural simples. Quase todas plantações usam tração animal. Na beira da estrada também vimos funerais que passam o dia tocando instrumentos, dançando, bebendo e chorando. Nas pequenas vilas as praças são apenas um cimentado na sombra do pé de uma árvore grande. Nosso alimento é o Dalbhat, prato oficial do Nepal com muito arroz, lentilha, vegetais, picles e direito de repetir à vontade.

Nessas andanças pelo mundo encontrei várias pessoas com idéias mirabolantes. Aqui no Nepal encontramos um querendo subir até o acampamento base do Everest num monociclo; ainda no Brasil escutei sobre um japonês fazendo uma volta ao mundo puxando um carrinho de supermercado; em Bangkok encontrei outro que planeja ir para Europa numa moto-taxi (tuk-tuk); também em Bangkok conversei com um americano que planeja atravessar a Mongólia de leste a oeste jogando golfe. E para finalizar encontrei também um par inusitado de alemão com judeu viajando de bicicleta pela Índia. Quem entende?

Gustavo, Alexandra e eu

Os problemas da Guerra no Iraque e da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não mudaram muito o dia a dia nepalês. Por causa da guerra seguimos evitando os produtos americanos e por causa do SRAG estão fazendo maior fiscalização nos aeroportos.

Acabamos de chegar em Pokhara, uma pequena cidade com um lago de água doce e um morro de neve com mais de 6000 m.a.n.m. Um dos principais pontos turísticos do país. Daqui pretendemos seguir para o Parque Nacional Chitwan, Lumbini, oeste do Nepal e cruzar novamente para a Índia.

Até a próxima!
Argus

“O mundo é um livro maravilhoso, mas de muito pouca utilidade para quem não sabe ler”
Carlo Goldoni

Para saber mais
www.keep.wlink.com.np
www.gorakhnikhil.org.np/his/
www.nma.com.np/history.htm
www.kantipuronline.com
www.hrdsnrescue.org.np
www.kailashhimalaya.com
www.nepal.de
www.pokhara-net.com
www.countryreports.org/history/nepahist.htm
www.kasbah.com/vitalstats/culture_and_history/
www.nepalhomepage.com/general/history.html
www.maoism.org
www.bigchalk.com
www.cartographic.com