Etapa 4 – Relatório 2


Salam Malaikom, Mais uma vez a rota mudou. Imaginei ir para a Líbia e Tunísia e acabei vindo para a Grécia. O governo Líbio não me deu o visto e tive de mudar meu caminho. Do Cairo fui para o norte pelo delta do rio Nilo. Conheci a linda biblioteca de Alexandria e peguei um avião para atravessar o mar Mediterrâneo.

Ainda no Cairo…
A Embaixada da Líbia foi um grande calço no caminho. Fiz o requerimento de visto com todas as exigências que me pediram, traduzi o passaporte para o árabe, copiei vários documentos e até entreguei uma carta de recomendação da Embaixada do Brasil. Tudo em vão. Pior do que negar o visto, me fizeram esperar um mês para até hoje não darem resposta.

Imagens do Cairo

Imagens do Cairo

Imagens do Cairo

Imagens do Cairo

Durante a espera aproveitei a capital para visitar alguns escritórios de arquitetura, ver shows, cinemas, bares, etc. Na escola estudei que Egito era um país quente e Cairo estava o maior frio, tiveram noites com apenas dez graus de temperatura. Os dias começaram a ficar muito iguais. Comecei a ter até rotinas! Uma delas era comer falafel e kochari, comidas típicas (e econômicas) egípcias. Para variar a vida resolvi voltar para o Sinai junto com alguns amigos.

O Sinai geologicamente divide a Ásia e a África e possui uma história riquíssima. Desde o início da humanidade, a região foi importante rota entre os dois continentes. Desde os tempos faraônicos esteve nas mãos de babilônios, persas, gregos, romanos e marca o êxodo dos israelenses para a terra prometida. Ali é também o ponto inicial da expansão do islamismo na África. Seu povo é beduíno, por muitos considerado o puro povo árabe. No Sinai eles não se consideram asiáticos nem africanos. Eles são “do Sinai” e, quando falam que vão para o Cairo, dizem “-Vou para o Egito.”

Monte Sinai

Para os muçulmanos o sagrado Monte Sinai é onde o cavalo de Mohammed, Boraq, ascendeu ao céu. Para os cristãos, consta na Bíblia que foi lá onde Moisés recebeu os 10 mandamentos de Deus. Subimos ao topo a 2285 metros para ver o pôr do sol e a simpática Capela da Santa Trindade. No alto nos acomodamos entre vários turistas que fizeram o mesmo e descemos com a lua cheia e muito frio. Sendo ou não religioso a beleza da montanha vermelha com a luz da lua faz qualquer um ter fé.

Monastério de Santa Catarina

Visitamos o greco-ortodoxo Monastério de Santa Catarina, também entre milhares de turistas. Éramos tantos visitantes que para caminhar dentro de seus ambientes fomos carregados pelo fluxo comandando pelos monges que já aprenderam a lidar com essas “manadas”. Dentro do monastério está o arboredo onde supostamente Moisés recebeu os 10 mandamentos. O arboredo é realmente sagrado pois quase todos tiram uma folhinnha para recordação e a árvore segue viva.

Topo do Monte Sinai

Arbusto onde Moisés recebeu os 10 mandamentos

De volta ao Cairo visitei novamente a Embaixada da Líbia e segui sem notícias. “Sorry, call us next week.” me repetiram pela quarta vez. Na fila encontrei alguns que estavam esperando o visto há três meses! A paciência com a burocracia líbia acabou e resolvi seguir viagem por outro caminho.

Sem o visto tive de abandonar a opção de ir para o oeste, o leste é de onde eu vim, o sul seria interessante mas contra-mão da Europa onde quero estar no verão. Sobrou então o norte.

Ok, rumo norte. Fui pedalando pelo delta do Nilo até chegar no mar Mediterrâneo, na histórica cidade de Alexandria.

O delta do rio Nilo é a área mais fértil do Egito. A estrada é plana e cheia de pontes para atravessar o emaranhado de rios que formam o delta. A beira da estrada é dividida entre plantações e cidades. Tive sorte e pedalei com um sol que surgiu milagrosamente no meio dos dias nublados.

Delta do rio Nilo

Cheguei em Alexandria e fui direto para o porto tentar uma carona de navio ou veleiro. Os ferries para Europa funcionam apenas no verão e não tinha nenhum veleiro europeu na marina. A forma mais barata de atravessar o Mediterrâneo foi um avião para Atenas.

Antes de voar fui conhecer um pouco Alexandria.

O grego Alexandre, o Grande, durante seu reinado, fundou várias cidades com seu nome. Uma delas é a Alexandria do Egito. Poucos anos após sua fundação em 331 a.C., Alexandre morreu de febre na Babilônia, com 33 anos. A cidade de Alexandria ficou então sob o comando do general Ptolomeu que, seguindo as instruções de Alexandre, fez a cidade prosperar como um centro cultural. Foi construída a maior biblioteca da Antiguidade que ficou sendo o centro de pesquisas científicas de todo Mediterrâneo e polo irradiador da cultura grega (helênica).

“The first Ptolemaic kings had determined to establish Egypt as the preeminent kingdom of their time. Alexandria became the center for science, arts, literature and philosophy. It was the policy of the Ptolemies to bring writers, poets, artists, and scientists to Alexandria from all over the ancient world to enrich the two unprecedented institutions: the “Mouseion” and the “Library”. The Mouseion, or shrine for the Muses (Museum in Latin) was the first scientific institute and the greatest university in ancient times. The Library was the first universal library.”
Site oficial da Biblioteca de Alexandria
Biblioteca de Alexandria

A antiga biblioteca foi destruída aproximadamente há 1600 anos atrás e há poucos anos foi construída uma nova biblioteca. O projeto arquitetônico foi o resultado de uma competição internacional e a construção atual é um grande círculo inclinado saindo da terra representando o nascer do segundo sol.

Sobre a destruição da antiga biblioteca…

“… The first fire was in 48 BC during the Alexandrian war in which Caesar became involved to support Cleopatra VII against her brother Ptolemy XIII. According to some sources nearly 40,000 books were burned… The Mouseion itself was destroyed along with the Royal Quarter sometime in the third century AD during the strife and accompanying power struggles that shook the Roman Empire… The “Daughter Library” survived till the end of the fourth century. A decree by Emperor Theodosius in 391 AD forbade non-Christian (pagan) religions. Theophilus (the Bishop of Alexandria from 385 to 412 AD) destroyed the Serapeum and its “Daughter Library” as being the house of pagan doctrine. Scholars survived for another generation till the murder of Hypatia in 415 AD and the end of the era of Alexandrian scholarship….”
Site oficial da Biblioteca de Alexandria

Dentro da biblioteca de Alexandria

Dentre os vários cientistas que passaram por Alexandria está o Erastótenes que fez a primeira medição da circunferência da Terra em 240 a.C.

“Eratóstenes (276 a.C.-194 a.C.) faz o primeiro cálculo da circunferência da Terra e encontra a distância de 39.690 km. Sua experiência é considerada prodigiosa, já que a margem de erro é praticamente desprezível. O sábio grego avalia a circunferência da Terra usando um método simples e genial. Primeiro, ele supõe que a Terra seja uma esfera. Ele sabe, também, que toda esfera tem uma circunferência de 360º. Ou seja, esse é o ângulo que se percorre ao dar uma volta completa no planeta. Então ele imagina o seguinte: se 360º representam uma volta inteira, quantos graus existem num percurso mais curto? Para descobrir isso, Eratóstenes visita duas cidades do Egito: Alexandria, onde vive, e Syene, a 833 km de distância. Em cada lugar ele finca uma vareta no chão e mede sua sombra na mesma hora do dia. Pela diferença de tamanho das sombras, descobre que as cidades estão separadas 7,5º – um ângulo 48 vezes menor que a circunferência completa. Aí, Eratóstenes multiplica 48 por 833 (a distância entre Alexandria e Syene em km e encontra os 39.690 km.”
Almanaque Abril
Teto da loja de café em Alexandria

Todo mundo no “buraco”

Em alguns lugares do Oriente Médio e no Egito, encontrei um baralho cujas cartas possuem as fotos dos iraquianos procurados pelos americanos. Dessa forma os soldados passam o tempo jogando e memorizam suas faces.

baralho para memorizar os iraquianos procurados

A guerra é realmente medonha. Não apenas pelos tantos que morreram mas pelo desacato aos direitos humanos, desejos e aspirações da nossa geração. No mundo que estou visitando não encontrei sequer uma pessoa a favor da invasão ao Iraque. Até os americanos que encontrei são contra essa guerra. Sem nenhuma vergonha o governo americano mentiu para todos e usou a desculpa da luta contra o terrorismo para saquear o petróleo de um país. Sem nenhuma ética a mídia corrupta deturpou as informações e hoje mais da metade da população americana, mesmo sem provas, acredita que Saddam Hussein esteve envolvido com o contra-ataque de 11 de setembro.

Sigo acreditando que todos nós podemos fazer um papel importante contra essa situação. Nossa guerra existe por causa da ganância do capitalismo e o capitalismo depende de mercados consumidores. Nós podemos escolher o que comprar, o que ver, o que usar, etc. e podemos nos esforçar para não participar da economia dos grandes impérios capitalistas. Não acredito que surgirá outro Marx para propor um novo sistema mas acredito que nós, os cidadãos comuns, poderemos exigir que o sistema capitalista funcione com ética.

“Seja você a mudança que deseja ver no mundo”
Gandhi

Voei para Atenas e no momento estou congelando no inverno europeu. Aqui sim faz frio de verdade! Estou aproveitando o convite de amigos e passando alguns dias na ilha de Samos para esperar o frio do inverno diminuir.

Mas a Grécia ficará para o próximo relatório…

Grande abraço, Argus

Para saber mais
Sites oficiais
Ministério do Turismo
www.touregypt.net

Egypt State Information Service
www.sis.gov.eg

Jornais e revistas
www.ahram.org.eg
www.egypttoday.com
www.mena.org.eg
www.algomhuria.net.eg
www.cairotimes.com
www.metimes.com
Oposição
www.alahali.com
Biblioteca de Alexandria
www.bibalex.org